Nos últimos anos, temos visto em todos os jornais o agravamento da crise econômica pela qual o Brasil passa. Verdade que recentemente houveram sinais de melhoras, mas ainda vivemos um período muito conturbado de nossa história. Sabemos que os fatores que agravam este cenário são muitos, porém, talvez um dos mais importantes tenha passado despercebido por nós: a produtividade industrial e a sua estagnação na economia do país.
Entre os anos de 2003 e 2013, passamos pelo período de maior crescimento econômico em nossa história. Os altos preços dos commodities, juros baixos e fácil acesso ao crédito fizeram com que os setores de comércio e indústria crescessem e contratassem a todo vapor. Como os ventos eram favoráveis, em momento algum viramos nossos olhos para os graves problemas estruturais de nossa economia, e nunca nos perguntamos se os caminhos adotados eram os melhores em termos de prazo e visão estratégica. Agora que passamos por uma crise, nos vemos reféns de antigos problemas não solucionados.
O Brasil, em sua história como nação, nunca passou por uma mudança estrutural que fizesse de nós um país com alto desenvolvimento industrial nacional. Perceba que a ideia aqui não é fazer do Brasil um Estado fechado para a economia internacional, pelo contrário, é trazer competitividade para a Indústria brasileira diante dos produtos e mercados estrangeiros. Se pudermos citar um exemplo de país que se atentou para a produtividade interna e sua expansão, falaríamos da Coréia do Sul que optou por desenvolver por anos sua indústria nacional, melhorar a capacidade da mão de obra, com investimento em educação, e se tornar referência em tecnologia. Tudo isso fez da Coréia do Sul um fenômeno mundial em termos de produtividade e indústria, algo que o Brasil ainda está longe de alcançar.
Números que o Insper apresentou apontam que o Brasil cresceu, entre os anos 2005 e 2010, o chamado “boom” econômico, míseros 2,1% em produtividade, ficando bem atrás da China (9,8%), mesmo as duas nações fazendo parte das maiores economias emergentes nesse período. Outros números analisados pelo Boston Consulting Group, empresa de consultoria estratégica, dizem que o país cresceu em termos produtivos, em média, 1% anualmente, de 2001 a 2013, trazendo pouco incremento substancial e duradouro à economia do país. Nessa mesma análise, alguns elementos trazem notoriedade para o incremento do PIB: enquanto a China transformou seu PIB em 89% de ganhos produtivos (indústria, investimentos, etc), no caso do Brasil essa parcela representava apenas 22% do PIB, sendo os outros 78% correspondentes à força de trabalho (2001 - 2013). Trocando em miúdos, o Brasil cresceu pelo consumo (aumento salarial acima da produtividade do trabalhador) e não pela melhora real de sua indústria. Já a China apresentou resultado inverso.
Diante de tais números, fica claro que o crescimento da economia brasileira não trouxe ganhos estruturais para a Indústria nacional. Pelo contrário, o alto preço dos commodities fez com que o país se voltasse para a exportação e mercado externo, e que grande parte dessa arrecadação fosse reinvestida na prospecção, retirada e evolução nos mercados desses produtos, deixando não só a indústria em segundo plano, como tapando os olhos para seus principais problemas.
Diante do exposto, não podemos desperdiçar essa oportunidade que a atual crise econômica nos trouxe: repensar nossa Indústria nacional como um todo. E os caminhos para acharmos uma solução podem variar, conforme olhamos a economia brasileira por diferentes ângulos, mas alguns aspectos são comuns às ideologias e tentarei abordá-los a partir de agora.
Ciência, tecnologia e educação. Esses são pontos centrais para o desenvolvimento industrial e que se relacionam fortemente em um sistema que se retroalimenta: o investimento em educação gera mão de obra qualificada para tecnologia que, por sua vez, acaba tornando a produção de ciência e tecnologia cada vez mais refinada. Com mais tecnologia, o país se torna mais rico e desenvolvido, providenciando mais investimentos em educação. Para entendermos como o Brasil ainda carece de tecnologia, vamos trazer alguns exemplos.
A indústria aeronáutica do país precisa comprar dos EUA um micro controlador para o painel de aviões, por motivos de que apenas lá se produz esse dispositivo, mas o Brasil, com a Embraer, não deveria depender de algo tão simples para a construção de um avião. Outro exemplo é que 70% dos medicamentos importados pelo país são de patentes vencidas, ou seja, se a indústria farmacêutica fosse desenvolvida, poderíamos fabricar todos esses medicamentos dentro do Brasil, gerando empregos e desenvolvendo um setor inteiro. Nesses dois exemplos básicos, vemos como a nossa indústria pode crescer, aumentando a necessidade de mão de obra qualificada para a produção de mercadorias específicas e, assim, precisando de uma boa educação e investimentos na mesma para gerar trabalhadores capazes de atender a essa demanda de tecnologia e trabalho refinado.
Claro que as formas de investir em educação, trazer ciência e tecnologia esbarram em visões ideológicas acerca do papel do Estado na economia, mas o que é inegável é que o Brasil tem uma das piores educações do mundo, de acordo com os vários testes realizados mundialmente todo ano, e que as oportunidades estratégicas que temos para expandir nossa indústria são gigantescas.
Crédito, incentivos e a livre concorrência. Esses são outros pontos essenciais para o desenvolvimento da produtividade em nosso país, seja ela industrial ou da nossa própria mão de obra. Abrir linhas de créditos para empreendedores, com juros baixos (assim como EUA e outros países praticam), sejam eles de qualquer tamanho, a proposição de uma reforma tributária, unificando os impostos existentes e diminuindo a burocracia, gerando mais empregos e renda, e permitir que os mercados de produtos externos e internos se adequem à livre concorrência, gerando benefícios para os consumidores, sejam eles pessoas físicas, jurídicas, potências mundiais, etc. Neste ponto é importante frisar que os recentes escândalos de corrupção com concessões de créditos às grandes empresas não ratificam a tese de que crédito barato é errado. Pelo contrário, ela mostra a necessidade da expansão de linha de crédito para pequenos e médios empreendedores, para que esses possam disputar a linha de frente da indústria brasileira com grandes empresas do passado. Para tanto, é preciso que sejam revistas a taxa básica de juros, a entrada de capital externo e tantos outros pontos importantes que já foram citados.
Como pudemos ver, analisar o Brasil, de uma certa forma, não é tão difícil quanto parece. Temos muitos desafios produtivos dentro do nosso próprio país e eles não são, com um olhar um pouco mais cuidadoso, complicados de serem observados. As grandes questões são como nós poderemos resolver esses desafios, quais saídas são melhores e o porquê de não seguimos os exemplos de outros países desenvolvidos que passaram por situações parecidas como a nossa, respeitando a diversidade e singularidade do nosso país, e assim adquirirmos maturidade industrial e econômica.
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