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Vitor Hipolito

Jack Welch: Como um CEO pode transformar uma empresa

Atualizado: 20 de nov. de 2020




Caso fosse perguntado para um conjunto de pessoas quem eles consideram mais importante, o CFO - maior responsável pelas finanças de uma empresa - ou o diretor de RH, provavelmente a grande maioria escolheria a primeira opção. Porém, ao fazer o mesmo questionamento a respeito de um contador e um diretor esportivo - aquele responsável pelas contratações do clube - em um time de futebol, pouquíssimos falariam que o contador possui maior relevância. São analogias como essas que, ao longo de sua carreira, o empresário Jack Welch utilizou para mostrar o quão essencial é ter uma boa equipe de Recursos Humanos para uma empresa vencer.


Apesar de usar metodologias pouco convencionais, não se pode questionar seus resultados: durante os seus 19 anos como CEO da General Electric (GE), empresa na qual trabalhou toda sua vida, a receita anual da companhia subiu de US$27.9 bilhões para US$111 bilhões, um aumento de quase 400%. Entretanto, antes de compreender quais foram suas medidas e estratégias para atingir resultados como esse, é importante conhecer um pouco da sua trajetória até chegar ao principal cargo da companhia.


Sua história

John Frances Welch Jr. nasceu na cidade de Peabody, no estado de Massachusetts, nos Estados Unidos. No seu último ano do Ensino Médio, o então estudante foi aceito na University of Massachusetts Amherst para o curso de engenharia química, concluído no ano de 1957. Então, em vez de ingressar diretamente no mercado de trabalho, optou por ir para a University of Illinois at Urbana-Champaign, onde obteria seus diplomas de mestrado e doutorado em engenharia química no ano de 1960.


Após a conclusão dessa etapa, Jack Welch conseguiu seu primeiro emprego na própria General Electric, como um simples engenheiro em uma das várias fábricas da empresa. Após um ano ocupando o mesmo cargo, ele chegou a pedir demissão por estar insatisfeito com seu salário e com a grande burocracia da companhia. Entretanto, a mesma já via bastante valor em Welch, e conseguiu convencê-lo a ficar, por meio da concessão de uma promoção a gerente e um aumento salarial. Foi nesse momento, em 1962, que teve início sua ascensão: por cada cargo que passava, o engenheiro continuava entregando resultados que surpeendiam seus superiores, até que, em 1981, Jack Welch foi promovido a CEO da GE aos 46 anos, até então a pessoa mais jovem a ocupar o cargo.


A General Electric foi fundada por Thomas Alva Edison em 1878 e é sediada em Boston, Massachusetts, sendo um conglomerado de empresas de tecnologia e serviços financeiros. Ela opera principalmente nos seguintes segmentos: energia, energias renováveis, aviação, saúde e serviços financeiros.


As mudanças

Agora na posição de maior importância dentro da empresa, Welch deixou sua missão clara: a General Electric precisava ocupar o topo de todas as indústrias que atuava, desde o setor de motores de aviação até o de óleo e gás. O objetivo não era fácil, considerando que a companhia é um conglomerado de diversas outras, principalmente no ramo de bens de consumo duráveis. Contudo, como já apontado, seus resultados foram expressivos e, para isso, foi necessária uma série de mudanças e inovações não convencionais:


1. 20-70-10

Essa estratégia consistia em basicamente dividir os funcionários da companhia em 3 grandes grupos: os 20% que entregam os melhores resultados; os 70% medianos, que precisavam trabalhar mais para chegar na primeira categoria; e, por último, os 10% piores, que deveriam ser demitidos da empresa.


Os 20% mais capacitados deveriam ser tratados como “estrelas”, recebendo bônus e outros benefícios, de forma a mostrar que aqueles que se dedicarem e entregarem com excelência serão recompensados. Aos 70%, é preciso mostrar o que é necessário para subir de grupo, oferecendo treinamentos e dicas de como crescer, estimulando-os a ascenderem dentro da empresa. Esse grupo do meio, por representar a maior parte dos funcionários, acaba sendo o que precisa de maior atenção, com o intuito de garantir que eles subam aos 20% melhores ao invés de descerem para os 10% piores. Por fim, aos “últimos colocados”, segundo Welch, “não há outra solução que não seja mandá-los embora”. O ex-CEO da GE acreditava que essa era a melhor opção não somente para a empresa, como também para o próprio funcionário, pois muitas vezes ele simplesmente não está no lugar certo e conseguirá entregar com maior qualidade em outra companhia. Portanto, cada parcela precisa ser tratada de uma forma diferente, visando sempre otimizar os resultados da empresa.

2. Six Sigma

Six Sigma é uma metodologia que visa reduzir defeitos e oscilações no processo produtivo da empresa, principalmente no que diz respeito à qualidade e margem de erro dos produtos. Apesar de ter sido inventada por Bill Smith, engenheiro da Motorola, em 1986, ela foi popularizada quando foi implementada por Jack Welch na General Electric. De acordo com ele, “a Six Sigma é uma técnica por meio da qual você pode treinar seus funcionários para reduzir variações. A variação é ruim para os negócios, e, portanto, ao reduzí-las, seus custos operacionais caem drasticamente e os ganhos em market share são potencializados, uma vez que seus clientes sempre recebem o que é prometido.” Um exemplo simples de como isso pode ser aplicado é em um delivery de pizza, de forma a garantir que o entregador sempre vá chegar por volta do horário acordado, para que o consumidor nunca tenha que esperar durante um período de tempo excessivamente prolongado.

Antes da implementação do Six Sigma em 1996, a GE estimava que seus gastos com desperdícios (por exemplo, produtos fabricados com defeito) eram de US$ 8 a US$ 12 bilhões por ano, representando uma taxa de erro em sua operação 10.000 vezes maior do que o “permitido” por essa metodologia, que exige um índice de acerto superior a 99.99%. Alguns anos após a implementação, Welch conseguiu reduzir bastante os custos quando comparado aos benefícios, garantindo um aumento de lucratividade da GE. Em razão desses consecutivos bons resultados, acabou sendo condecorado com prêmio de “melhor gestor do século” pela revista Fortune em 1999.

3. Fusões e aquisições

Ao longo de sua carreira, Jack Welch participou de mais de 1.000 acordos de M&A (fusões e aquisições), que transformaram a General Electric no enorme conglomerado que é hoje. Esses processos envolveram empresas de diversos setores, por exemplo, o de entretenimento, quando a RCA foi adquirida pela GE em 1985 pelo valor de 6.5 bilhões de dólares, o equivalente hoje a aproximadamente 15 bilhões de dólares.


Dentre alguns dos conselhos para ter sucesso nesses procedimentos, Welch destaca a importância de ambas as companhias manterem uma cultura empresarial parecida. Por mais que, em muitos casos, uma aquisição possa parecer perfeita no âmbito de produtos e tecnologia, dificilmente haverá sucesso se as empresas possuírem princípios muito distintos. A grande importância desse alinhamento cultural é que, caso ambas as companhia possuam valores muito diferentes, seus funcionários terão muita dificuldade para trabalhar em conjunto, e a sinergia desejada não vai conseguir ser atingida. Ele também enfatizava o fato de que um processo de integração deve ser feito de forma rápida, num espaço curto de tempo, de forma que a empresa possa aproveitar efetivamente dos benefícios e sinergias de uma aquisição.


Além dessas três estratégias apontadas, Jack Welch também protagonizou uma série de outras inovações ao longo de seu período como CEO, muitas seguindo uma de suas principais teses: o diretor de RH é o segundo cargo mais importante dentro de uma empresa, pois, de acordo com ele, a equipe que vence é aquela que tem os melhores jogadores. Welch conseguiu implementar uma série de mudanças benéficas para a empresa durante a sua gestão, mas, ainda sim, há uma série de críticas em relação ao seu legado deixado, especialmente ao se analisar o longo prazo da companhia.


Seu legado

Logo após receber seu prêmio de melhor gestor do século, no auge de sua fama e glória, Welch já demonstrava sua preocupação com o futuro: “Meu sucesso será determinado por quanto meu sucessor crescer nos próximos 20 anos”. Apesar de tal cuidado, as duas décadas após sua renúncia vieram a mostrar que ele também tomou algumas medidas ruins à frente da GE: ao longo desse período, o valor da empresa despencou tanto que, no início de 2019, representava somente cerca de 12% o seu valor no final de 2001, ano em que Jack Welch saiu da General Electric.

Um dos principais motivos para as críticas direcionadas a Welch é o fato dele ter popularizado a estratégia conhecida como “shareholder value”, que estabelece que a principal tarefa de uma empresa deve ser aumentar o valor da empresa para beneficiar seus acionistas. Em busca de conseguir cumprir esse objetivo, ele comprou e vendeu uma série de empresas ao longo de sua gestão, dispensando um grande número de funcionários ao longo do caminho, o que contribuiu para essa otimização de custos que era extremamente visada. Ademais, muitos críticos acreditam que o então CEO da GE alcançou o sucesso reduzindo investimentos que poderiam ter protegido a empresa no longo prazo, por exemplo, ao cortar o orçamento de P&D da General Electric), o que explicaria seus resultados cada vez piores nos anos mais recentes. A importância da alocação de capital nesse setor é perceptível, sobretudo nos dias atuais, onde o desenvolvimento de novas tecnologias é fundamental para que a empresa consiga permanecer inovando e se diferenciando de seus concorrentes - algo que a General Electric, atualmente, não tem conseguido fazer.


Não somente pelos resultados, Jack Welch foi muito julgado pelo seu salário excessivamente alto. Em 1997, sua remuneração era 1400 vezes maior do que a de um trabalhador médio dos EUA. Esse é um número extremamente elevado até mesmo para CEOs, que, em 1997, na média, recebiam “somente” 200 vezes mais que um trabalhador comum.


Apesar desses pontos, Welch também teve “boas ações” durante sua carreira. No decorrer de seu período à frente da General Electric, o número de funcionários subiu de 4.004 para cerca de 340.000, empregando muitas pessoas ao redor do mundo nesse intervalo. Ademais, 12 anos após sua aposentadoria, em 2012, fundou a John F Welch Jr. Foundation, uma instituição filantrópica que busca auxiliar principalmente organizações de saúde e educação, além de indivíduos em situação de pobreza.


Infelizmente, no dia primeiro de março de 2020, Jack Welch faleceu aos 84 anos. Ao longo de sua vida, ele ganhou muitos admiradores, mas, ao mesmo tempo, muitos críticos, os quais acreditam que ele deixou um legado insustentável para a GE. Independente dos pontos de vista, pode-se dizer que Welch nos deixou uma grande mensagem: para vencer, é necessário fazer sacrifícios.


Bibliografia


WELCH, Jack; WELCH, Suzy. Winning. New York: Harper Business, 2005.


BULYGO, Zack. Lessons on Winning and Profitability from Jack Welch. Neil Patel, 2018. Disponível em: <https://neilpatel.com/blog/winning-and-profitability/>. Acesso em: 28/09/2020

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