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Foto do escritorRodrigo Marques Leão Ferreira

Elon musk: o materializador de sonhos

Atualizado: 13 de abr. de 2021



O começo

Um gênio, bilionário, apaixonado por ciência, filantropo, empreendedor, uma personalidade ímpar. Como é possível perceber, não é fácil definir quem é Elon Musk. O sul-africano de 47 anos, detentor de um patrimônio líquido superior a 22 bilhões de dólares e de uma das mentes mais brilhantes do planeta, desde criança se destaca pela inteligência. Com apenas 12 anos foi capaz de programar um jogo de computador, posteriormente vendido a uma revista por 500 dólares. Musk é formado em business e física pela Universidade da Pensilvânia, iniciou um doutorado em física aplicada pela Universidade de Stanford, mas parou no meio para empreender na crescente onda da internet dos anos 90.


Dando início à sua carreira no mundo dos negócios, Elon e seu irmão fundaram uma empresa que desenvolvia conteúdo para portais de notícias online e, após algumas movimentações de mercado, venderam a firma, restando-lhe uma parcela de 7% do negócio (22 milhões de dólares). Com parte desse dinheiro, Musk começou uma empresa chamada X.com, especializada em pagamentos online, que, após uma fusão, resultou na formação do PayPal, que tinha os mesmos objetivos e foi um grande sucesso. Ele se tornou CEO da marca e depois foi retirado do cargo por conta de algumas discordâncias internas. A empresa, então, foi vendida para o eBay por 1.5 bilhão de dólares, dos quais Elon ficou com 165 milhões, e teve, assim, condições de começar a investir em seus projetos mais ambiciosos.


A personalidade

Não são apenas o seu vasto conhecimento técnico, seu extraordinário faro para negócios e sua imersão absoluta, com uma carga horária superior a 80 horas semanais, que impressionam. Elon Musk possui uma personalidade única e, muitas vezes, controversa. Ele já usou drogas em um programa de TV, o que resultou em uma queda de 8% nas ações da Tesla, se relaciona com artistas famosas, teve casamentos conturbados e é muito ativo em sua conta no Twitter. Campo de muitas polêmicas, essa rede social é o canal usado para expor suas opiniões sobre assuntos globais, pessoais e profissionais. Uma de suas maiores controvérsias fomentada por tweets aconteceu recentemente, quando um grupo de crianças ficou preso em uma caverna inundada na Tailândia. Elon e seus engenheiros projetaram um pequeno submarino para realizar o resgate, no entanto, ele foi acusado, inclusive por membros da equipe de mergulhadores, de se envolver no caso por marketing pessoal, o que acarretou uma intensa troca de insultos por ambas as partes e prejudicou sua imagem. Ele é imprevisível e muitas vezes impulsivo, o que não é visto com bons olhos por uma classe de investidores mais conservadores que temem o efeito dessas características em suas companhias.


Por outro lado, Musk possui muito carisma e, graças a isso, se tornou um dos queridinhos dos Estados Unidos, chegando a ser assessor conselheiro do presidente Trump até decisão do governo de sair do acordo ambiental de Paris, quando abandonou o cargo, visto que ele é muito atento às questões ecológicas. O bilionário sul-africano já fez participações especiais em séries de TV, como “Os Simpsons” e “South Park”, concedeu entrevistas para os principais canais de comunicação e ficou conhecido como o Tony Stark da vida real por conta de seus projetos futuristas, chegando a aparecer em um dos filmes do “Homem de Ferro”. Ele conta com um personal branding muito agregador às suas companhias, o que gera ações de publicidade gratuitas. Por conta de sua credibilidade como empresário e engenheiro de inovações, suas marcas são divulgadas a cada uma de suas aparições midiáticas e ganham um peso enorme só por terem seu nome envolvido, criando terreno fértil para grandes investimentos, além de potencializar imensamente as demandas de seus produtos.



O método

Elon é um gigante no mundo dos negócios, possui cargos importantíssimos em várias empresas grandes, alcançando o sucesso com a maioria delas. O fator que leva suas marcas a terem desempenhos tão impressionantes, além da singularidade dos produtos, é o modo como opera. Os seus projetos exigem um enorme investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D), são postos em prática por engenheiros caríssimos e, por sempre buscarem gerar produtos de ponta, enfrentam diversos obstáculos. Dentre os principais deles, estão a adaptação do público a seus produtos e, principalmente, o desenvolvimento de uma produção em larga escala. Sendo assim, manter suas marcas como referências em suas áreas, gerar lucro para cobrir as despesas e ainda desenvolver algumas das maiores inovações do planeta é uma tarefa extremamente complexa. Musk supera esses obstáculos utilizando muita criatividade para baratear ao máximo os custos de produção. Também conta muito com a sinergia entre as suas marcas, que possuem a maioria de suas sedes e operações em um mesmo lugar, a Califórnia. Como dispõem de fábricas e especificidades altamente tecnológicas, sempre contam com a ajuda das equipes de outras firmas de Musk, desde as de marketing até as de engenharia. Muitos questionam se não seria mais vantajoso alocar suas instalações em países com a mão de obra mais barata, e a sua resposta é que o elevado nível de integração entre os diretores, as cadeias de produção, as sedes e os funcionários compensam em resultados esse custo mais elevado. Veja agora como esses métodos de operação foram aplicados nas suas maiores marcas:


A empresa nasce com um sonho de Elon Musk de explorar Marte, considerando inclusive a possibilidade de levar humanos para morarem no planeta por um período. Com isso, em 2001 ele começou a estudar a possibilidade de comprar foguetes e partes de mísseis da Rússia para conseguir colocar em prática seus projetos. No entanto, os preços eram muito elevados e não seria viável operar com tamanhas despesas.


Tendo essa questão em mente e após muito estudo sobre o funcionamento de naves espaciais, Musk teve a sacada que levaria a SpaceX ao sucesso como nova empresa em um mercado pouquíssimo explorado pela iniciativa privada. Ele percebeu que a matéria-prima para construir o que desejava custava apenas 3% dos preços de venda que havia visto no mercado. Assim, a SpaceX começou a fabricar do zero a maior parte dos componentes. Como resultado, a empresa conseguiu diminuir por volta de dez vezes o custo do lançamento, gerando uma margem de lucro bruta de 70%. A sede foi alocada juntamente com a fábrica e os escritórios administrativos em Hawthorne, Califórnia, tirando proveito da integração entre os diferentes setores. A partir disso foi construído um foguete pequeno, com menos riscos de falha, por ser mais simples, o Falcon 1. Esse se tornou o primeiro modelo de uma iniciativa privada a chegar à órbita da Terra, em 2008, após três tentativas falhas.


Contudo, o sucesso emblemático no contexto científico não refletia no setor financeiro da firma. Em meio à maior crise do capitalismo desde 1929, era uma tarefa muito difícil encontrar investidores. Além disso, o mercado de lançamentos espaciais mostrou-se inelástico, ou seja, a diminuição no preço do serviço não trouxe um aumento tão significativo na demanda. Elon já havia utilizado mais de 100 milhões de dólares do próprio bolso para sustentar o andamento dos projetos. Foi então, quando tudo apontava para a falência, que, nos últimos dias daquele mesmo ano, Musk recebeu uma ligação com uma proposta de 1.6 bilhões de dólares da NASA para reabastecer sua estação espacial, resolvendo o gargalo financeiro. A empresa, então, teve um crescimento exponencial e no final de 2012 já havia 40 lançamentos contratados, o que geraria uma receita superior a 4 bilhões de dólares. A próxima inovação idealizada pela equipe de engenheiros é fazer com que os foguetes possam ser reutilizados, por meio de uma aterrissagem vertical que consiga conservar todo o equipamento. Isso serviria para diminuir drasticamente os custos, evitando a necessidade de construção de uma nave completamente nova. Quando esse patamar for atingido, estaremos consideravelmente mais próximos de realizar transportes espaciais de pessoas a preços mais acessíveis e a SpaceX estará diante da possibilidade de um serviço que pode vir a ser extremamente rentável. Já foram feitos testes dessa funcionalidade com o Falcon 9, o sucessor, bem mais robusto, do Falcon 1. Esse foguete, em 2015, aterrissou pela primeira vez em terra e em 2017 foi o primeiro modelo do mundo a conseguir ser reutilizado em outro lançamento, provando a viabilidade de tal avanço. Por fim, há o Falcon Heavy, que é o foguete mais poderoso do mundo, capaz de transportar mais de 50 toneladas, outra conquista significativa que pode vir a trazer novas oportunidades de negócios.


Na mesma linha de projetos ousados e futuristas da SpaceX, o principal objetivo dessa empresa fundada em 2003 é fabricar carros elétricos de ótimo desempenho. Sua história e a de Elon Musk se confundem a partir de 2004, quando ele se tornou presidente do Conselho de Administração após uma rodada de investimentos. Já em 2008, Elon assumiu o cargo de CEO da firma, no mesmo ano em que foi lançado o seu primeiro carro, o Roadster, que teve 100 pedidos de pré-venda no primeiro dia de anúncio, mesmo sendo um item de luxo. A fábrica encontrou alguns problemas, produzindo apenas 3 carros nos dois primeiros meses e só alcançando a marca dos três dígitos com um ano de operação, dando os primeiros indícios de uma fraqueza que atormenta a empresa até hoje, a produtividade. O fim da fabricação desse modelo veio no fim de 2011, com apenas 2600 carros montados. Foi então que Musk optou por aplicar seu método, já usado na SpaceX. Também alocando a maior parte de suas instalações na Califórnia, começou a construir autonomamente o máximo de componentes possíveis dos produtos finais, para diminuir custos. Os carros então começaram a ser produzidos com 80% das peças feitas pela própria fábrica. Com isso, em 2012 foi lançado o sedã Model S e em 2015 o SUV Model X, que também não são carros baratos (preço por volta de 80 mil dólares). Ambos são dotados de tecnologias futuristas, como um tablet acoplado que controla todo o carro, filtro de poluição e um sistema, ainda não totalmente autônomo, de piloto automático que leva o veículo ao destino colocado no seu GPS. Esses modelos foram um sucesso instantâneo, sendo considerados dois excelentes carros por inúmeros especialistas e usuários. No entanto, as dificuldades na linha de produção e os preços elevados não permitiram que fossem amplamente consumidos. Agora, para alcançar um público maior, foi lançado o Model 3, que é muito mais acessível que os outros, chegando ao mercado por 35 mil dólares, e promete ser a solução em vendas da companhia. Além disso, está sendo incorporado ao seu catálogo de produtos painéis solares, provenientes da fusão com a empresa SolarCity. Fusão essa que vem contribuindo muito no avanço técnico e no barateamento do mercado de placas solares.


Mesmo com essas impressionantes demonstrações de tecnologia e funcionalidade, as finanças da Tesla sempre foram um assunto preocupante. Em 2008, ela passava por uma crise econômica muito semelhante à da SpaceX. Após um investimento de aproximadamente 70 milhões do bolso de Musk, salários atrasados e somente 9 milhões restantes para sustentar a firma, ela parecia que também se encaminhava para a falência. Esse foi o momento em que Elon optou por arriscar tudo e, ao invés de focar seus últimos esforços em uma só, tentar salvar as suas duas empresas. No caso da Tesla, ele conseguiu um investimento de 50 milhões da marca de automóveis alemã Daimler, mais 20 milhões de outros investidores e ainda colocou mais 20 milhões de sua conta, conseguindo manter suas operações funcionando. Depois desse incidente, as contas permanecem no vermelho até os dias de hoje. Ela possui capital suficiente para operar por conta do grande número de financiamentos, investimentos e compras de ações, se não fosse por isso, a marca já teria falido há muito tempo, pois tem gastado mais do que arrecada com vendas em todos os anos de operação, seguindo a antilógica do retorno de uma forma mais estendida. Essa entrada de capital externo continua ocorrendo por conta da confiança de que, em um futuro próximo, a Tesla passará a ser lucrativa e retornará o dinheiro investido, com chances reais de se tornar uma das empresas mais ricas do mundo. Ela ainda possui uma boa graduação no grau de investimento (métrica de confiabilidade de retorno do investimento ou empréstimo), variando de B2 a B3 dependendo da agência que calculou.


Os problemas econômicos começam com a fábrica, que não consegue atingir uma escala satisfatória, oferecendo, em muitos casos, abaixo da demanda. Em 2013, por exemplo, foram vendidos pouco mais de 5,000 carros. Esse número vem crescendo significativamente, mas o número de carros produzidos permanece abaixo do necessário para manter as finanças saudáveis, mesmo com uma excelente adesão do público. A previsão é de que esse cenário seja revertido, pois está sendo feito um investimento enorme em uma fábrica gigantesca, a gigafactory, que deve solucionar a questão da cadeia produtiva. Além disso, as vendas do Model 3 provavelmente vão aliviar o fluxo de caixa. As despesas da empresa também se concentram muito em P&D, para tornar realidade todas as inovações que elaboram. Portanto, a conta ainda não fecha graças ao enorme custo com os investimentos em desenvolvimento interno e infraestrutura, somado ao prejuízo com a produção e venda, que ainda não encontraram um equilíbrio, e essas perdas só são aliviadas pela entrada dos financiadores externos. Isso leva a casos como o de 2017, no qual, mesmo com uma receita de quase 12 bilhões, a firma teve um prejuízo de mais de dois bilhões de dólares. Os investidores estão começando a ficar impacientes e duvidosos da capacidade de Elon Musk reverter essa situação, mas, ao mesmo tempo, parece que a Tesla agora está conseguindo cada vez mais renda e mais equilíbrio na sua rede produtiva, o que pode indicar ótimos resultados para os próximos anos.


Comparação da receita (cinza) e do prejuízo (vermelho) da Tesla por ano

Com todo o sucesso em inovações alcançado pelas duas anteriores, Elon Musk mais uma vez começou um projeto que pode vir a ser revolucionário. A Boring Company é um dos seus mais recentes empreendimentos e pretende ser uma solução para o trânsito no futuro. A ideia nada mais é do que uma rede de túneis subterrâneos por onde os carros seriam guiados com as rodas presas a trilhos que os levariam a velocidades bem superiores às das vias comuns. O projeto é tão futurista que fica difícil acreditar que possa ser posto em prática. Contudo, já foi feito o primeiro túnel em Los Angeles, Califórnia, e estão sendo aplicados testes nele, que já inclusive apareceram em programas de TV e dão esperanças ao público de que isso realmente se torne realidade. Mais uma vez Elon se utilizou de sua estratégia de minimizar custos para viabilizar o projeto. Novamente, ele decidiu fazer a escavação por conta própria e percebeu que poderia fazê-la de uma forma muito mais otimizada. Para isso, chegou à conclusão de que os túneis poderiam ter um diâmetro bem menor do que costumam ser feitos, a máquina escavadeira poderia trabalhar mais rápido e com mais potência, poderia ser utilizada energia elétrica nas operações e teve a criativa ideia de utilizar as toneladas de terra que seriam retiradas para produzir e vender tijolos. Atualmente, escavações de túneis subterrâneos, como nos metrôs, custam por volta de 550 milhões por quilômetro e Musk diz conseguir fazê-los por cerca de 10 milhões com seus métodos. Como pode ver, ele sempre se utiliza da mesma fórmula para atingir resultados impressionantes, por mais variada que seja a proposta da empresa.


O futuro

Não satisfeito com tudo que já conquistou, o 36o homem mais rico do mundo ainda possui muitos planos para colocar em prática. A Tesla pretende ter seu primeiro sucesso de vendas com o Model 3 ainda esse ano. Já anunciou, também, o novo Roadster, que terá um desempenho esportivo excepcional e uma autonomia acima dos 1000 km. Já a SpaceX está considerando a possibilidade de fornecer internet rápida para todo o globo a partir de satélites. Caso obtivesse apenas 50 milhões de adeptos, conseguiria uma receita de 30 bilhões por ano com esse negócio. Além, é claro, da ambição de levar os humanos até Marte ainda na próxima década. A Boring Company pretende terminar seus testes para conseguir colocar seus túneis em funcionamento e aliviar o trânsito de Los Angeles. Elon ainda participa ativamente no funcionamento de outras empresas menores que possuem projetos muito ambiciosos. Entre elas, está a Neuralink, que pretende produzir interfaces cérebro-computador implantáveis, inicialmente para curar pacientes com deficiências cerebrais e, posteriormente, potencializar nossas mentes. Também está em desenvolvimento o hyperloop, que é um conceito de transporte que funcionaria com trens em tubos à vácuo que poderiam ultrapassar os 1000 km/h, tornando viagens longas acessíveis e rápidas. Por fim há a Open AI, uma firma sem fins lucrativos que desenvolve de uma forma segura a inteligência artificial das máquinas.


Não é fácil definir quem é Elon Musk. Mesmo assim, chegando ao fim dessa análise, arrisco defini-lo como simplesmente alguém que dá o passo além. Quem nunca pensou em carros que andam sozinhos, foguetes que nos levarão a Marte ou túneis para escapar do trânsito? Contudo, Elon não se contenta em imaginar, sua inquietude e senso de responsabilidade o forçam a seguir em frente, mesmo já sendo dono de uma fortuna inimaginável. Sua força motriz não aparenta ser o dinheiro, talvez ela seja a humanidade ou colocar seu nome nos livros de história, mas é certo que suas motivações são mais nobres que o mero lucro. Musk mostra-se alguém maior que rotulações rasas, mais que um cientista e mais que um empresário, um materializador de sonhos.


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