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Foto do escritorMaria Luísa Becker

20 anos do 11 de Setembro: a trágica e persistente herança do terror



No dia 11 de setembro de 2001, os cidadãos dos Estados Unidos e de todo o mundo se viram frente a um dos maiores atentados terroristas da história. Em meio a um cenário de extremo terror, todos se encontravam fixados em televisões e demais meios de informação, no aguardo de atualizações sobre o trágico acontecimento. As transmissões midiáticas diretamente do World Trade Center, complexo de edifícios que englobava as duas torres atingidas e um dos maiores centros comerciais de Nova York da época, pareciam não ter fim e, assim, a angústia e o medo se estenderam por toda a sociedade, não tardando para que os números e as péssimas notícias fossem trazidos à tona. 2.977. Essa foi a quantidade de pessoas que tiveram suas vidas interrompidas durante os ataques executados pelos 19 terroristas, que desafiaram a hegemonia norte-americana - até então considerada inatingível - e geraram impactos para muito além do território alvo.


A ação dos sequestradores foi tão rápida e inesperada que não foi possível fazer nada para impedi-la nem, ao menos, suavizá-la. Em menos de uma hora, os integrantes do grupo extremista Al-Qaeda tomaram controle de quatro aviões, colidindo dois deles contra as Torres Gêmeas, um contra o Pentágono, sede do Departamento de Defesa dos EUA, e tiveram que fazer com que o quarto, antes direcionado ao Capitólio, centro legislativo estadunidense, caísse em um terreno na Pensilvânia, descartando a possibilidade de passageiros sobreviventes. Assim, promovendo consequências de dimensões globais tanto econômicas quanto sociais significativas que perdurariam até hoje, 20 anos depois.


Reinício de um século


Infelizmente, essa não foi a primeira vez. O World Trade Center já havia sido alvo de terrorismo em 1993 com a explosão de um veículo em um de seus estacionamentos subterrâneos, também por associados ao grupo Al-Qaeda. Porém, por mais que 6 vidas tenham sido perdidas e mais de 1.000 pessoas tenham se ferido nessa primeira tentativa, nenhum dano às estruturas foi notificado, o fato não foi amplamente divulgado e as proporções da ocorrência foram relativamente pequenas a ponto de não causar um alarde significativo no cotidiano da superpotência mundial.


Já na segunda ocasião, com as Torres Gêmeas entrando em colapso e desabando em 2001, o governo norte-americano viu que seria novamente impossível tratar com impunidade tamanha atrocidade, mas que atitudes deveriam ser tomadas na prática. Desse modo, a fim de amenizar a grande ameaça ao seu poderio no planeta e acabar com a possibilidade de ocorrência de qualquer tragédia semelhante, a política, não só do país, como de diversas nações, frente a posicionamentos extremistas, nunca mais foi a mesma. A partir daquele momento, não eram apenas caçados os autores dos possíveis ataques, como também todas as pessoas que pudessem ter um mínimo vínculo com os acontecimentos.

Nos anos que sucederam, o temor da população mundial inserida em um cenário de perigos e incertezas foi intensificado. Atentados em outros países ocidentais como Espanha, França e Reino Unido deixavam as nações frequentemente vulneráveis a adeptos aos grupos terroristas, destacando-se a Al-Qaeda, que não cogitava dar nem um passo atrás em seus posicionamentos. Além disso, nos Estados Unidos, por exemplo, a xenofobia e crimes de ódio, especialmente contra muçulmanos, tornaram-se seis vezes mais presentes, alimentados por esse crescente receio e, sem dúvidas, a vontade de dar uma resposta aos causadores de todos os atentados se sobressaía a todo custo.



De volta a Grande Depressão


Como se não bastasse o choque psicológico atrelado às inúmeras mortes, vale ressaltar um segmento que sofreu mundialmente durante o período: o financeiro. Tendo em vista que o país com maior poderio econômico do mundo se mostrava vulnerável, é evidente que o receio se estendeu para além da população norte-americana e refletiu em diversos aspectos que coordenam a sociedade, a exemplo do mercado financeiro.


Quando os ataques aconteceram, o pregão1 da Bolsa de Valores de Nova York ainda estava fechado e assim permaneceu até o dia 16 de setembro, algo que não acontecia desde a Crise de 1929. Visivelmente, houve um baque de grande dimensão na economia estadunidense, que contou com uma perda estimada de quase 600 bilhões de dólares em valor de mercado na reabertura da NYSE2. Além disso, como era de se esperar, as consequências econômicas não se limitaram apenas à extensão territorial controlada pelo então presidente George W. Bush, sabendo-se que demais países também tiveram que encontrar saídas para o desfalque ocasionado. No Brasil, por exemplo, a B3, sua Bolsa de Valores, se viu na necessidade de executar um circuit breaker3, obtendo uma queda de 9,17% no mesmo dia, e, na Alemanha, o DAX, principal índice da bolsa, registrou perdas superiores a 18%, sendo essas apenas duas comprovações da dimensão do impacto mundial praticamente instantâneo.


Especificando ainda mais a queda dos valores das ações na Bolsa, é interessante destacar as duas companhias aéreas inseridas no caso: a American Airlines e a United Airlines. Ambas observaram suas ações caírem drasticamente, uma vez que foram sequestrados aviões dessas empresas nos atentados, e estima-se que, menos de um mês após a reabertura da NYSE, acionistas da United ainda precisavam coletar 2.5 milhões de dólares em lucros gerados antes do dia 11, o que contribuiu para o prejuízo de 542 mihões de dólares adquirido pela empresa no final de 2001. Com isso, por mais que alguns investidores tenham optado por realizar um pacote com derivativos financeiros⁴, a fim de preservar seus investimentos, reerguendo esses baixos números e impedindo que o desfalque econômico tomasse proporções maiores, os Estados Unidos vivenciaram, até 2002, uma recessão econômica, com uma queda de até 20% do índice composto S&P 500⁵.



Abaixo a guerra desavisada


Com as diretrizes definidas, não demorou muito para que as autoridades estadunidenses resolvessem ir atrás dos responsáveis por todas as cenas de horror que chocaram o mundo. O presidente Bush prontamente realizou um discurso, declarando o início da incessante busca pelos culpados e, então, proclamando a chamada “Guerra ao Terror'', que consistia no combate ao terrorismo.


Como já havia indícios de que os atentados tinham sido planejados no Afeganistão, país base da organização extremista, tropas majoritariamente estadunidenses foram enviadas e invadiram o território muçulmano. O objetivo do governo com as invasões não era declarar guerra a uma nação propriamente, mas a todos os grupos espalhados ao redor do mundo que pudessem vir a ser apoiadores de ideologias terroristas. Assim, em 2003, dois anos após a entrada do exército norte-americano nas limitações geográficas afegãs, os EUA declararam guerra ao seu segundo alvo, o Iraque, o qual eles acusavam de ser detentor de armas de destruição em massa, que poderiam facilmente estar ligadas a planos de ação extremistas. Porém, o intuito da Guerra ao Terror passou a ser questionável, à medida que tornou-se visível a inveracidade da alegação norte-americana para essa segunda invasão, já que tardiamente foi apontado que havia interesses econômicos por trás da ocupação que envolviam a exploração de petróleo na região.


Ademais, vale ressaltar que, somente em 2011, o exército estadunidense se direcionou ao Afeganistão, onde supostamente se encontrava o mentor dos ataques de 2001, Osama Bin Laden, e o assassinou, concluindo seu objetivo primário de início das guerras. Porém, ainda assim, o plano de combate ao terrorismo seguiu sendo posto em prática, demandando grandes investimentos da superpotência mundial. Estima-se que, em sua totalidade, cerca de 8 trilhões de dólares tenham sido gastos ao longo dos últimos 20 anos, na Guerra ao Terror, sendo mais de 2 trilhões apenas destinados à Guerra do Afeganistão.


Ainda, não são apenas os valores financeiros que impressionam. Ao tratar da quantidade de mortes que ocorreram durante toda essa jornada da Guerra ao Terror, tem-se 900 mil vidas perdidas, sendo, dentre elas, 7 mil de militares norte-americanos e 363 mil de civis.



Mesmo após a conclusão de seu objetivo primário de buscar os responsáveis e conter a ameaça terrorista, as tropas estadunidenses foram mantidas no Afeganistão por 20 anos, muito mais tempo do que o esperado, caracterizando a ocupação norte-americana mais longa da história. Desde o governo de Barack Obama, a ideia de retirar o exército do território afegão transitava pelo Congresso, mas não era prontamente realizada, pois era evidente que deveria ser feita, no mínimo, de forma gradativa. Donald Trump também não efetivou essa medida em seu mandato, alegando que as condições não eram ideais para tal. Porém, este chegou a assinar um acordo com o Talibã⁶, confirmando que no ano seguinte, 2021, isso seria feito, caso o grupo cortasse laços com terroristas e parasse de propagar a violência.


Então, em agosto de 2021, o atual presidente Joe Biden cumpriu com o plano de retirar todas as forças norte-americanas do Afeganistão, o que fez com que o Talibã voltasse ao poder depois de 20 anos de forma quase que imediata. Essa retomada foi recebida com temor no país dominado e ao redor do mundo, trazendo novamente angústia e medo à sociedade, além de um sentimento de solidariedade internacional com a população afegã, que agora se encontra novamente sob domínio do grupo fundamentalista e nacionalista islâmico.


Aonde iremos


Mesmo mais de duas décadas após os atos extremistas do 11 de Setembro, diversos nomes ainda estão sendo oficialmente reconhecidos e, assim, seguem entrando para as estatísticas e prolongando a lista de vítimas do atentado, que conta com 1.106 pessoas ainda não identificadas. Ainda no caso das Torres Gêmeas, houve o derretimento de suas estruturas, o que fez com que pessoas que estavam nos arredores fossem expostas a elementos prejudiciais à saúde por conta da enorme nuvem de poeira gerada. Assim, muitos acabaram desencadeando doenças severas, a exemplo de câncer, problemas respiratórios e até da chamada “Doença do World Trade Center”⁷, incluindo bombeiros e policiais que trabalharam no resgate em busca de sobreviventes.





Outro aspecto a se considerar é que, desde os atentados, as viagens de avião nunca mais foram as mesmas. A fiscalização e a legislação voltadas ao transporte aéreo tornaram-se muito mais rígidas em prol de maior segurança da população mundial, o que hoje é muito visível, já que as bagagens, por exemplo, passaram a ser muito mais fiscalizadas. Além disso, vale ressaltar uma medida que também mudou drasticamente o cotidiano nos Estados Unidos: a Lei Patriótica. Vigente a partir de outubro de 2001, essa lei antiterrorista representou de certa forma uma violação aos direitos e liberdades civis, sendo vista por muitos como de caráter anticonstitucional. Isso se deu, uma vez que ela passou a permitir o uso de escutas e rastreamento de ligações feitas no território norte-americano pela Agência de Segurança Nacional (NSA), que, claramente, contribuiu para um ganho de segurança, mas também para uma perda de privacidade por parte de todos os cidadãos.


Nesse sentido, é inegável que a sociedade mundial ainda precisa lidar com as consequências e mudanças ocasionadas com a tragédia relatada. A volta quase que imediata do Talibã ao poder afegão mostra que as bases de combate ao extremismo, especialmente terrorista, ainda estão longe do ideal e faz com que o mundo se veja em uma angústia semelhante a de 20 anos atrás, perguntando-se quando e se essa guerra violenta realmente irá acabar um dia.


Glossário:


1. Pregão: período de negociação de ativos e ações;

2. NYSE: The New York Stock Exchange: Bolsa de Valores de Nova York;

3. Circuit breaker: mecanismo adotado para situações restritas nas bolsas de valores;

4. Derivativos financeiros: categoria de ativos que têm seus valores dependentes ou derivados de algum outro ativo ou conjunto de ativos;

5. S&P 500: índice composto por quinhentos ativos na NYSE;

6. Talibã: grupo fundamentalista islâmico de cunho extremista que, atualmente, está no poder do Afeganistão;

7. Doença do “World Trade Center”: proveniente do ataque de 11 de Setembro e da exposição das pessoas aos escombros, poeira e ar contaminado.]


Bibliografia:


ARMSTRONG, Martin. 9/11 Illnesses Still Have a Devastating Impact on Firefighters. Statista. Disponível em: <https://www.statista.com/chart/18745/world-trade-center-related-firefighter-deaths-by-year/ > Acesso em 06/09/2021.


CRAVEIRO, Rodrigo. 11 de setembro: 20 anos da tragédia que o mundo não esquece. Correio Braziliense. Disponível em:


DAVIS, Marc. How September 11 Affected The U.S. Stock Market. Investopedia. Disponível em:


MEDEIROS, Regiane. Pregões inesquecíveis: terror de 11 de setembro abala os mercados. Eu quero investir. Disponível em:


NEVES SILVA, Daniel. Atentado de 11 de setembro. Uol. Disponível em: < https://mundoeducacao.uol.com.br/historiageral/11-setembro.htm > Acesso em 05/09/2021.


PONCHIROLLI, Rafaela. Atentados do 11 de setembro: o que aconteceu?. Politize. Disponível em: <https://www.politize.com.br/atentados-11-de-setembro/> Acesso em 05/09/2021.


ROSSATO, Leonardo. O custo da Guerra ao Terror. Nada novo no front. Disponível em: < https://nadanovonofront.com/2021/08/16/o-custo-da-guerra-ao-terror/ > Acesso em 05/09/2021.


TEIXEIRA, Marcel. Aprendendo com o passado? 10 pregões que marcaram a história das bolsas. Infomoney. Disponível em:


UFMG. 11 de setembro: 20 anos depois. UFMG. Disponível em: <https://ufmg.br/comunicacao/noticias/11-de-setembro-20-anos-depois> Acesso em 06/09/2021.


WATSON Institute. Human and budgetary costs of War Afghanistan. Brown University. Disponível em:


WENKEL, Rolf. Impactos do 11/09 na economia foram superestimados, diz especialista. Deutsche Welle. Disponível em:


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